O Brasil possui riqueza mineral estratégica para a transição energética global, mas desafios históricos e ausência de políticas públicas robustas impedem o país de assumir uma posição de liderança no novo mercado verde
A transição energética é o grande desafio e a principal oportunidade do século XXI. Para enfrentar a crise climática, o mundo precisa reduzir drasticamente as emissões de carbono. Essa missão passa pela substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia e pela eletrificação da mobilidade. E é aqui que entram os minerais críticos, como lítio, grafite, cobalto, cobre e terras raras, essenciais para tecnologias como baterias de veículos elétricos, turbinas eólicas e redes de transmissão de energia.
Com uma demanda projetada para crescer exponencialmente — segundo a Agência Internacional de Energia, a demanda por lítio, por exemplo, pode aumentar 42 vezes até 2040 —, o controle sobre esses minerais está se tornando o novo xadrez geopolítico. União Europeia, Estados Unidos e China já se movimentam para garantir acesso soberano a essas riquezas, enquanto países como Chile e Canadá implementam estratégias robustas para alavancar suas indústrias. E o Brasil? Apesar de sua posição privilegiada em reservas de vários desses minerais, o país ainda caminha lentamente.
O paradoxo da riqueza mineral no Brasil
Sem dúvida o Brasil é uma potência mineral. Lidera em reservas globais de níquel, grafite, nióbio e terras raras, e ocupa o quinto lugar na produção de lítio, com vastas reservas no Vale do Jequitinhonha, rebatizado de Vale do Lítio. Contudo, essa riqueza contrasta com uma realidade histórica: o país segue como grande exportador de commodities, sem agregar valor localmente. Essa abordagem limita os ganhos econômicos, concentra riqueza e impede que o Brasil assuma a liderança na transição para uma economia verde.
Esse modelo também reflete uma falta de planejamento estruturado. Apenas 48% do território nacional está mapeado geologicamente em detalhe suficiente, e o setor enfrenta gargalos regulatórios, como processos de licenciamento que podem levar até 27 anos. Os desastres de Mariana e Brumadinho ainda pairam como lembretes amargos de que é imprescindível alinhar a exploração mineral à segurança ambiental e social.
O que precisa mudar: políticas públicas para aumentar a nossa competitividade
Para transformar a abundância mineral em um ativo estratégico na transição energética, o Brasil precisa adotar uma agenda de políticas públicas inovadoras. Aqui estão algumas prioridades:
Expandir o Mapeamento Geológico: Investimentos consistentes no mapeamento geológico do território nacional são essenciais para identificar jazidas e reduzir riscos exploratórios. O Plano Decenal de Mapeamento Geológico deve ser ampliado e acelerado, com colaborações entre governos, universidades e empresas.
Fortalecer a Agência Nacional de Mineração (ANM): Modernizar processos e expandir equipes é crucial para destravar licenças de exploração e garantir regulação eficiente, incluindo salvaguardas ambientais e sociais.
Desenvolver cadeias de valor locais: Incentivos fiscais, financiamentos e subsídios podem fomentar indústrias de transformação mineral no Brasil, agregando valor aos produtos e gerando empregos qualificados.
Inovar em sustentabilidade: Modelos de exploração que priorizem mineração limpa e segura, com proteção a áreas sensíveis e comunidades vulneráveis, devem ser adotados como padrão.
Se o Brasil assumir um papel de protagonista na transição energética, não apenas impulsionará seu desenvolvimento interno, mas também contribuirá para uma economia global mais verde. Para isso, é necessário repensar sua trajetória histórica de exportador de matérias-primas e adotar uma estratégia que valorize o que há de mais precioso: sua biodiversidade, sua riqueza mineral e seu povo. A transição é inevitável; a liderança é uma escolha.
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